terça-feira, 20 de abril de 2010

Como abrir um dia enlatado




Uma dose diária de ansiedade enlatada:
o despertador maníaco, o bocejo família,
as válvulas frouxas, minha máquina contida.

Existo a quilômetros de mim,
faminta da falta
de apetite dos Outros.

E na literatura de bulas,
sem perder de vista
meu regador de estradas,
em total desuso,
atualizo- me do mundo.
Espero...
Até que o entulho me anoiteça.

Durmo com promessas aos
deuses das papoulas.

Se só por um dia,
o despertador não me aceitar,
rasgarei o embrulho do presente
e do amanhã.


Gostarei apenas da incompletude da vida.
Das formas pueris das incertezas.
Vou experimentar a liberdade das rãs
descobrindo meus olhos,
em lua cheia.

Cavarei no meu peito
os abismos mais profundos
para me encontrar.

Assim,
Não haverá mais dias
enlatados de ansiedade.
Entenderei a arte de engatar o nada
E devorarei o recheio das minhas vertigens.

2 comentários:

Paulo P. disse...

Uau!!! Mais uma poesia sensível, profunda e cheia de imagens fantásticas (e mesmo assim tão reais!!)
Vi uma citação pra você:
"Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução, alguns dizem que assim é que a natureza compôs as suas espécies"
Machado de Assis

Unknown disse...

Excelente Carlota! Não pare nunca de preencher nossas vidas com suas palavras.