quarta-feira, 11 de junho de 2008

Capoeira



As coisas do mar gostam do cheiro da cidade.
A cidade gosta mais ainda do cheiro do mar
e as coisas do mar têm
diferentes cheiros dependendo
da hora na cidade.

As ondas arrepiam os corpos
besuntados dos meninos.
Os gritos ao sentir nos pés
a indecisão da água.
O vai e fica na eterna dança com a areia.

Fica e vai, gela a brisa.

No vai e fica,
No vai e vem,
as cócegas nos pés do menino.
No fundo do azul,
Idéias e séculos soterram.
O mar ,
esse espelho de barulhos,
é o cálculo exato do nosso abismo.

Os erros bóiam como algas na espuma.

A noite cata conchas e lixo,
vírgulas deixadas à deriva.
No espelho do mar, estrelas são reticências.
Cascatas caem do céu...

Com a água no pé,
tudo se afasta em um segundo
aproxima-se noutro
Entendo nesse segundo: sou vírgula para a vida.

Como sou vírgula, sou alquimia,
gaivota com fome,
tesouros abissais.
Migratória em ser eu.

No intervalo do que se arrasta ,
Meus olhos encantam no horizonte
a linha divisória do azul.


Água-viva queima os pés do menino durante o dia.
À noite, as reticências refletidas fazem tranças no velho mar.
Desvairadas, estrelas, a cutucar o universo,
enquanto nossos olhos procuram respostas.


Os barcos ancorados à espera da partida,
da magistral ida ou volta, sempre.
No vai e fica, a morte e a vida.